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Artigo

Erro de Português

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FONTE

 

Certa vez o jornalista, editor, filantropo, funcionário público, cientista, diplomata e inventor Benjamin Franklin disse: “ou escreves algo que valha a pena ler, ou fazes algo acerca do qual valha a pena escrever”.

Há alguns dias uma moça me parou na rua perguntando se eu era o Edilberto Magalhães. Fiquei com receio, olhei para os lados e respondi que “sim!”. Com medo, confesso. Não que eu tivesse motivos para ter, mas com essa onda de violência, vai que... Após a minha resposta, a moça me abraçou e parabenizou-me pelos meus textos. Disse que gostava muito da minha forma de escrever e que me considerava muito inteligente, mas não fazia ideia que eu fosse tão novinho. (Pensei: poxa, também não precisa esculachar né!). Após alguns minutos de conversa ela soltou a frase: “o seu texto é bom, é provocativo e inteligente, mas há alguns equívocos na língua portuguesa que precisam ser observados com mais atenção”.

Escrevo há muito tempo, mas não me considero um escritor! Escrevo artigos, contos, crônicas, poemas, música, carta, bilhete... Escrevo porque gosto. Gosto por quê? Não sei como lhe responder, mas gosto de escrever. Penso que: “o gosto pela escrita cresce à medida que se escreve”(Erasmo de Rotterdam). Além disso,“escrever foi a tábua à qual me agarrei para não ser considerado um idiota.”(Carlos Heitor Cony).

Sobre os “equívocos na língua portuguesa”, sei que é assim. Tendo dificuldade com crase, vírgula, uso dos porquês e com tantos outros detalhes da língua portuguesa que quando divulgo algum texto uma das primeiras coisas que penso é: (frase censurada).

De certa forma, o que me conforta é saber que escritores dos quais sou fã também têm dificuldades na escrita. Rubem Alves, por exemplo, escreveu certa vez: “cheguei onde estou por caminhos que não planejei. É um lugar feliz com o qual nunca sonhei. Nunca me passou pela ideia que eu viria a ser escritor… Sou ruim em gramática, erro a acentuação. E há mesmo uma pessoa que se dedicava a escrever-me longas cartas para corrigir meu português. Parou de escrever. Acho que desistiu. Como é bem sabido, sou um mau aluno, especialmente quando o professor quer ensinar-me coisas que eu não quero aprender. Pena que o dito professor voluntário, nunca tivesse feito comentário algum sobre o que eu escrevia...“. No texto do Rubem Alves, um dos pontos que considero “chave” é o fato do “professor” não ter se preocupado com o “conteúdo”, apenas com a“forma”. E Rubem Alves finaliza o texto assim: “concordo mesmo é com Patativa do Assaré: ‘É melhor escrever errado a coisa certa do que escrever certo a coisa errada …’”.

Com o passar do tempo tenho ficado bom. Aprendendo a cada dia através de muita leitura, pesquisa e conselhos de pessoas como a moça que parou na rua. Acredito que o caminho é esse.

Pra finalizar esse texto deixo o poema “Erro de Português” de Oswald de Andrade e aconselho: leia-o observando a ironia nas entrelinhas.

Quando o português chegou

Debaixo de uma bruta chuva

Vestiu o índio

Que pena!

Fosse uma manhã de sol

O índio tinha despido

O português.

 

Edilberto Magalhães
Opinião