No dia mundial de combate à tuberculose a Folha de Araputanga entrevista a Dra Lúcia de Miranda Moraes, médica graduada pela Universidade Federal de Goiás, Especialista em Clínica Médica e Pneumologia, atualmente, médica do PSF São Sebastião em Araputanga e consultório médico no Centro Médico Cristo Redentor em Araputanga.
Folha - Drª o que é a tuberculose?
Drª Lúcia -A tuberculose é uma doença bacteriana transmissível por um uma bactéria chamada bacilo-de-koch transmitida pela via inalatória, o que quer dizer isso? Pela tosse, pela respiração, o paciente que está contaminado elimina a bactéria e pode estar contaminando as pessoas que não têm a doença ainda. A tuberculose é como se fosse uma pneumonia de duração prolongada que pode estar sendo transmitida pela via aérea, pelas secreções e gotículas.
Folha - Drª quem são os principais candidatos a contraírem essa doença?
A tuberculose pode ser contraída por qualquer individuo, seja ele sadio ou com baixa imunidade, logicamente os pacientes com baixa imunidade estão mais propensos a desenvolver a doença, e pacientes também que estão albergados, por exemplo, em asilos, quartéis, creches ou presídios. É uma doença que desenvolve principalmente em países onde a condição sócio econômica é mais baixa, países de condições sanitárias piores, os pacientes estão mais aglomerados e podem ter uma contaminação mais fácil. Mas a tuberculose não exclui nenhuma pessoa, mesmo pessoas sadias sem doenças crônicas podem estar sendo contaminadas porque é uma doença que se transmite pela respiração. Se a gente está em contato com uma pessoa, que está contaminada pela tuberculose, e ela tosse perto da gente, essa pessoa pode contaminar qualquer um de nós. Não existe um grupo de risco, qualquer pessoa pode estar sendo contaminada porque é uma doença que esta no ar, pela respiração se transmite.O Brasil é um país que está no foco da Organização Mundial de Saúde por ser um dos 22 que mais tem a doença. Por isso essa necessidade de os profissionais da saúde realizarem esse trabalho de prevenção e de busca ativa dos infectados para evitar a transmissão da tuberculose.
Folha: Drª quando a medicina passa tratar uma gripe, ou mesmo um aparente resfriado, como tuberculose?
Os sintomas são muito semelhantes aos de uma gripe. Todo paciente que desenvolve uma gripe deve ficar atento com o período de duração dessa gripe, geralmente gripes, resfriados não duram mais de uma semana, geralmente em sete dias o paciente melhora porque uma doença viral é auto-limitada. Então, o paciente chamado de "sintomático respiratório" que é o paciente que tosse há mais de três semanas deve ser avaliado para tuberculose. Tosse é um sintoma muito pouco valorizado porque culturalmente os brasileiros não consideram tosse um problema(acham que é normal da idade ou alérgica) e tosse é um sintoma que indica doença, ninguém tosse normalmente. Uma pessoa contaminada com a tuberculose se tossir pode contaminar trinta indivíduos. Então tossiu por mais de três semanas é um critério mandatório para se investigar a tuberculose e procurar a unidade de saúde mais próxima para realizar os exames de diagnóstico (coleta de escarro e Raio-X de Tórax).Alguns sintomas também são importantes como febre (principalmente no período da tarde), perda de peso, suores noturnos e falta de ar.
Folha - Drª, como evitar a tuberculose?
A principal medida para evitar a tuberculose seria a melhoria de saneamento básico, das condições de saúde da população como um todo. Outra medida é o uso de máscaras pelo tossidor em ambientes aglomerados. Na impossibilidade do uso deve-se pelo menos realizar a "higiene da tosse" que é a simples medida de tampar a boca com a mão ou lenço para tossir, para que as gotículas contaminadas expelidas em alta velocidade não sejam inaladas por outras pessoas. Ambientes bastante arejados também acabam matando a bactéria. A bactéria não gosta de corrente de ar e luz,portanto deve-se deixar janelas bem abertas para entrada de sol, com correntes de ar.
Na verdade é um tratamento prolongado de no mínimo seis meses. Em geral a maioria dos pacientes vai expressar uma melhora clinica no primeiro mês; já começa a ganhar peso, já pára de tossir, e existe uma tendência em abandonar o tratamento por se sentir curado, isso é um grave procedimento por que ele pode evoluir inclusive com resistência bacteriana e precisar de outros tratamentos mais prolongados e de menor sucesso. É um tratamento fornecido pelo governo, o paciente não vai gastar com esse tratamento (ele vai pegar todo mês os medicamentos na unidade de saúde), mas ele não pode ficar nenhum dia sem o tratamento porque senão aumenta esse índice de resistência à bactéria e diminui possibilidade de cura. Nos primeiros 15 dias de tratamento esse paciente é ainda contaminador, portanto deve em casa evitar o contato muito direto com os familiares (por exemplo, a mãe que está amamentando deve usar máscara, evitar dormir com outras pessoas no mesmo quarto). Após esses 15 dias o paciente não transmite mais a doença, mas ele ainda está em fase de tratamento pois as bactérias ainda não morreram todas. Então a dica é não abandonar de forma alguma o tratamento antes do seis meses e sem consultar o médico, e não confiar na melhora que é expressiva no primeiro mês de tratamento pois ela não significa cura.
Folha – Hoje, para tratar a tuberculose, ainda se exige quarentena, isto é, isolamento?
Não. Atualmente não se interna o paciente para o tratamento de tuberculose, a não ser em casos de grave desnutrição ou AIDS e já está com imunidade muito comprometida ou com outras doenças oportunistas, quando tem histórico de uso de drogas ilícitas ou etilismo. Então, não tem indicação de quarentena. Se o paciente já está internado por alguma razão o ideal é mantê-lo isolado, porque se ainda não está em tratamento pode transmitir tuberculose para outros pacientes internados, mas em casa, não se isola paciente de quarentena como se fazia antigamente pois como já foi dito, quando se inicia o tratamento com 15 dias o paciente que transmitia a doença já não transmite mais. Além de ser atualmente um tratamento com altíssima eficácia e chance de cura. Também não é necessário separar comida, copo, talher, não existe transmissibilidade por essas formas. É uma doença de tratamento domiciliar, ambulatorial, e o paciente vai à unidade de saúde uma vez ao mês para pegar a medicação e fazer os exames de controle ou por ventura antecipar sua vinda ao hospital ou ao Posto de Saúde, quando tiver uma intercorrência referente à medicação.
Folha - Ao longo das décadas de tratamento, a bactéria da tuberculose vem aumentando sua resistência à medicação, ou não?
Nos últimos anos, os estudos dos especialistas observaram aumento da resistência da bactéria da tuberculose em relação às medicações usadas anteriormente. Com isso, desde 2009 houve uma mudança no tratamento da tuberculose onde se acrescentou mais um medicamento aos três que eram usados anteriormente, no intuito de diminuir a resistência bacteriana. Um dos vilões para aparecimento de resistência bacteriana é a interrupção do tratamento. A tuberculose ainda é uma doença muito estigmatizada pois antigamente os tratamentos eram pouco eficazes e os pacientes acabavam sendo levados para locais isolados e afastados do convívio familiar, o que gerava pavor e preconceito na sociedade. Hoje em dia tem-se um tratamento praticamente cem por cento eficaz, com cura sem sequelas e de fácil acesso (basta procurar a unidade de saúde mais próxima do domicílio para realizar o diagnóstico e iniciar o mais rápido possível o tratamento).