Contrariando todas as previsões das bolas de cristal, jogo de búzios, cartomantes, numerólogos, tarólogos e outros “experts” em futuro, afirmo que em 2012 não acontecerá nada. Nada! Não espere nada de 2012. Não fique perplexo, vou explicar: esse pensamento não é pessimista, ao contrário, é muito otimista, pois é um ato de crença, um princípio de fé no poder do homem de construir sua história pessoal ou coletivamente. Desde sempre soubemos que quem rege nossas vidas somos nós e nossas atitudes, são eles que fazem a cultura e determinam que o destino a ser traçado está em nossas mãos muito mais do que em qualquer outro lugar. Lembra do princípio do livre arbítrio?
Os festejos de final/começo de ano são simbólicos e por isso fazem as mentes efervescerem, mas, em resumo, representam a passagem de mais um ciclo; é o final de um ciclo e o começo de outro, outra etapa da vida que pode ser diferente ou semelhante ao anterior. Lembram das tradicionais ciganas que fazem a leitura das mãos nas ruas e nelas lêem nossos destinos, a velha arte da quiromancia? Pois é, elas têm razão, as ciganas sempre tiveram razão, ao menos em parte: o destino está em nossas mãos. Mas não apenas nas mãos, está em nós como um todo. Em nossas mãos, em nossos pensamentos, nas atitudes que tomamos, na direção que resolvemos trilhar, nos passos que damos nesta ou naquela direção, concorda?
Na verdade, o Ano Novo – 2012 - não vai mudar a nossa vida, se nos dermos conta ele pode ser exatamente como foi 2011, 2010, 2009 e por aí vai. O que podemos fazer é mudar algumas direções em nossa vida, pois se fizermos as coisas da mesma forma que fazemos sempre, como esperar resultados diferentes? Mas, ao modificarmos o processo, talvez o produto, o resultado, possa ser diferente. Quantas vezes insistimos em realizar as coisas da mesma forma esperando que isso trouxesse novos resultados. Eles não virão e não precisa ser um grande teórico da física quântica para saber disso, pois a terceira lei de Newton, da ação e da reação, já dá conta disso: “Toda força que um corpo recebe é consequência da força que ele aplicou”. Portanto, preste atenção: aplicar a força certa na direção exata é o começo de um processo que poderá ter êxito.
Mas ainda temos que entender outra coisa: mudar algumas atitudes nos custa muito, parece que não, mas nós mesmos nos sabotamos, nós mesmos puxamos o nosso tapete, e reclamos que as coisas não mudam. Mudar requer um esforço muito grande, o sacrifício de se adaptar a outra realidade, sair de uma zona de conforto onde até mesmo os conflitos que vivenciamos já são conhecidos, as mesmas brigas, as mesmas contendas familiares nos dão certa comodidade, pois encontramos sempre as mesmas saídas e remediamos a situação até que ela reapareça. Os jovens reclamam da ‘ladainha’ dos pais, os pais da desobediência dos filhos, os funcionários públicos dos salários, o governo da inflação, mas as mesmas ações continuam sendo usadas causando as mesmas reações. Quer reações diferentes? Use novos métodos, faça diferente.
Fazer diferente significa tentar resolver de uma forma estranha, um modo que não dominamos e que vai nos expor, vai nos deixar mais frágeis e com mais incertezas. Nem sempre estamos dispostos e nos mostrar frágeis diante de qualquer realidade, afinal o mundo ilusório dos super-homens e super-mulheres, que queremos ser, e que tudo podem, resolvem tudo e que são descolados, populares e estão na moda, na mídia, não permite que esbocemos o menor indício de fraqueza. Mudar significa se colocar em um lugar de fragilidade, de fraqueza, de reaprender a viver em outros limites, de aprender a falar outra língua ou a mesma língua com pessoas diferentes, a interpretar novos sinais, a acolher o que é diferente, a viver com menos e com mais incertezas. Coisas das quais aprendemos a fugir e até a desprezar.
As mudanças são sempre dolorosas, e quanta dor queremos ter para mudar? Nenhuma dor; somos unânimes em responder. Eu também não quero sofrer. Não nascemos para a dor, mas nascemos pela dor, e é por ela que nossa mãe nos perde imediatamente para o mundo, logo após o parto. Há parto sem dor? O movimento da vida requer esse sacrifício, as mudanças em nós também. Será que você terá coragem de apostar na mudança? Você será capaz de se tornar o responsável por suas escolhas, assumirá que nada acontece em sua vida, em nossa vida, por obra do acaso, mas por nossa ação determinada em vista das metas que traçamos. Você tem metas, tem mesmo? Será? Se não sabemos onde queremos chegar, como sabemos se chegamos ou não? Será que não advém daí esse perpétuo sentimento de vazio, de frustração?
Não espere nada de 2012, espere de você mesmo. Esteja certo de que as ciganas têm razão, o nosso destino está em nossas mãos mesmo, com uma diferença, só nós podemos fazer essa leitura. Nada acontecerá de significativo em sua vida em 2012, se você não desejar de corpo, mente e atitude. Por isso, aposte em você, confie em você, espere de você mesmo, e se nada acontecer não culpe Deus, a família, o governo, e nem as ciganas.
*Professor de História na EE Nossa Senhora de Fátima