“O setor de saneamento no Brasil passa por uma situação, no mínimo, curiosa. Nas décadas de 80 e 90 faltavam recursos para melhorias nos sistemas de esgotamento e drenagem. Hoje sobra dinheiro, mas entraves burocráticos e jurídicos impedem que o mesmo seja usado para a realização das obras”.
A afirmativa é do Presidente Trata Brasil, Édison Carlos, durante apresentação de painel sobre desastres climáticos no 26º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, promovido pela ABES e que está sendo realizado até amanhã no Centro de Eventos da FIERGS.
Segundo Édison Carlos, o Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab) prevê um gasto de R$ 270 bilhões para alcançar a universalização dos serviços de água e esgoto no Brasil até 2030. "O problema é que no ritmo em que as coisas estão acontecendo, só alcançaremos este sonho em 2060, principalmente porque o setor de drenagem está pouco contemplado", alerta.
Os problemas de saneamento ficam ainda mais evidentes diante de desastres climáticos como os que atingiram o Rio de janeiro e Santa Catarina recentemente. Para a presidente do Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro (INEA), Marilene Ramos, é preciso investir também em sistemas de comunicação e prevenção. "Numa situação como as que vivemos no início do ano, é quase impossível não se perder vidas humanas, mas temos que trabalhar para diminuir ao máximo estas perdas", enfatizou.
Com um Produto Interno Bruto (PIB) nominal de aproximadamente US$ 1,8 trilhão, o Brasil já é a oitava maior economia do mundo, segundo a agência Bloomberg. Mas, ironicamente, o País ocupa a 67ª posição no ranking mundial de países com acesso a esgoto, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU). A lista inclui 177 países pesquisados em todo o mundo, em 2008. Dados do Ministério das Cidades dão conta de que menos de 44% da população brasileira está ligada a uma rede de coleta de esgoto e somente um terço do esgoto coletado é tratado. Isto nos deixa abaixo de países como Etiópia, Nigéria e Sudão.
Ainda segunto o Instituto Trata Brasil, as maiores cidades brasileiras produzem, em média, cinco bilhões de litros de esgoto por dia. O resultado disto são 462 mil pacientes internados em hospitais, vítimas de alguma doença proveniente do contato com estes resíduos. "Hoje temos R$ 55 bilhões disponíveis para o setor e não conseguimos gastar nem a metade disto. Temos que aproveitar este congresso não só para chamar a atenção das autoridades, mas também para reinventar o setor e acelerar o processo de universalização se quisermos manter a meta para 2030", finalizou Édison.
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Considerado pelo setor o maior evento de sane¬amento da América Latina e um dos três mais importantes do mundo, o 26º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental vai receber cerca de 5 mil pessoas na capital gaúcha, de 25 a 29 de setembro de 2011. Tendo como tema principal o "Saneamento Ambiental: a exce¬lência da gestão como caminho para a universalização", durante cinco dias, profissionais e técnicos do setor participarão de mais de 20 painéis, reuniões de diálogo setorial, mesas redondas, visitas técnicas, seminários e de um grande fórum sobre "Política Nacional de Resíduos Sólidos". A programação completa do Congresso pode ser conferida no site: www.abes-dn.org.brhttp://www.abes-dn.org.br.